Brasil, ONU e lideranças mundiais se reúnem com foco na COP30
23/04/2025
(Foto: Reprodução) Reunião prepara terreno para a conferência do clima que ocorre no Brasil em novembro. Lula participou do encontro via videoconferência. Presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e secretário-geral da ONU, António Guterres, se juntaram num esforço de mobilizar países em torno da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30).
Com atuação do embaixador da COP 30, André Correa do Lago, foi convocada uma reunião com líderes pelo clima e transição energética justa para esta quarta-feira (23).
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A reunião, fechada, ocorreu de modo virtual. Por parte do Brasil, além do presidente Lula e do embaixador Correa do Lago, também participaram o assessor especial para assuntos internacionais, Celso Amorim, o ministro da Relações Exteriores, Mauro Vieira, e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
Entre os líderes presentes estavam os presidentes da China, Xi Jinping, e da França, Emmanuel Macron, além da representante da União Europeia, Ursula Von Der Leyen.
Após a reunião, os ministros Mauro Vieira e Marina Silva afirmaram que outras reuniões como essa poderão ocorrer ao longo do ano. A intenção da reunião foi engajar os líderes para que apresentem suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e de buscar apoio para as iniciativas da presidência brasileira para a COP 30.
🔎 As NDCs são as metas determinadas por cada país para reduzir a emissão de combustíveis fósseis para evitar que o aquecimento da Terra ultrapasse 1,5ºC, conforme determinado no Acordo de Paris.
O aquecimento global está levando a Terra a um ponto crítico, principalmente no Ártico, onde os impactos das mudanças climáticas são ainda mais intensos.
Kathryn Hansen/NASA
Corrida pelas NDCs
Até o momento, apenas 19 países dos 196 signatários da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima entregaram as NDCs atualizadas.
O prazo inicial era fevereiro, mas foi estendido até setembro, por ainda faltarem muitas entregas.
O Brasil apresentou sua NDC no ano passado, durante a COP 29 em Baku. Até o momento, grande emissores ainda não apresentaram suas metas como por exemplo, China e países da União Europeia.
🔍Os 19 países que já entregaram foram Brasil, Emirados Árabes Unidos, Estados Unidos, Uruguai, Suíça, Reino Unido, Nova Zelândia, Andorra, Equador, Santa Lucia, Ilhas Marshall, Singapura, Zimbabue, Canadá, Japão, Montenegro, Cuba, Maldives, Zambia.
Segundo fontes ouvidas pelo g1, todos os participantes falaram sobre suas particularidades e reafirmaram o compromisso de terem NDCs "ambiciosas".
China
Sobre a participação da China, segundo maior emissor do mundo, o secretário geral da ONU, Guterres, afirmou para jornalistas em Nova York que o país se comprometeu em apresentar sua NDCs dentro do prazo. Além disso, o presidente chinês teria anunciado na reunião que as "contribuições abrangerão todos os setores econômicos e todos os gases de efeito estufa."
É a primeira vez que a China se posiciona com relação a própria NDC.
Estados Unidos
Os Estados Unidos apresentaram sua NDC com metas para 2035 no fim do ano passado, ainda no governo Biden. Então, mesmo com a saída do Acordo de Paris, na gestão Trump, a NDC continua válida.
André Correa do Lago, presidente da COP 30
Matheus Campos/Amcham
'Promessas não cumpridas'
O discurso do presidente Lula não foi transmitido ao vivo. Após a participação do petista no encontro, o Palácio do Planalto divulgou o texto do discurso.
Conforme o texto divulgado, Lula voltou a dizer na cúpula do clima que o planeta está "farto de promessas não cumpridas" e cobrou dos países ricos o financiamento de ações climáticas.
"Queremos fazer da COP30 um grande mutirão em prol da implementação dos compromissos climáticos. Guerras, corridas armamentistas e cortes na ajuda ao desenvolvimento e no financiamento climático nos empurram para trás. O planeta já está farto de promessas não cumpridas", disse o presidente.
"Os países ricos, que foram os maiores beneficiados pela economia baseada em carbono, precisam estar à altura de suas responsabilidades. Está em suas mãos antecipar metas de neutralidade climática e ampliar o financiamento até o objetivo de um trilhão e trezentos bilhões de dólares", completou o presidente.
Ainda no discurso, o presidente também reiterou a informação de que, durante a COP30, o país lançará um fundo para os países em desenvolvimento protegerem florestas tropicais.
Lula também citou o Papa Francisco e afirmou que as guerras e a corrida armamentista "nos empurram para trás".
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Financiamento climático e oportunidades econômicas
Outro tema central da reunião foi o financiamento das ações voltadas para enfrentar as mudanças climáticas. Para Corrêa do Lago, o debate não se restringe mais à meta de Baku, mas a um compromisso muito mais amplo.
“Precisamos repensar as bases do financiamento climático se quisermos atingir cifras como 1,3 trilhão de dólares. O Brasil defenderá transparência total nas negociações.”
Selwin Hart, conselheiro da ONU para mudanças Climáticas, destacou que a crise climática também representa uma oportunidade econômica.
“No ano passado, 1,5 milhão de empregos foram criados no setor de energia renovável, que já representa 10% do PIB global. Não estamos apenas salvando ecossistemas — estamos criando alternativas econômicas reais", avalia.
Segundo conselheiro da ONU para Mudanças Cimáticas, 1,5 milhão de empregos foram criados no setor de energia renovável em 2024.
Sandro Menezes
Cálculos da comunidade científica dão conta de que são necessários US$ 1,3 trilhão para garantir recursos suficientes para medidas de proteção do meio ambiente.
Entretanto, a última COP, em Baku (Azerbaijão), no ano passado, chegou ao valor de US$ 300 bilhões, valor considerado pelo governo brasileiro "muito aquém" do necessário e que representou uma "decepção". E mesmo este valor é visto com cautela na comunidade internacional.
Além disso, o próprio presidente da COP30, André Corrêa do Lago, já disse que a saída dos Estados Unidos do Acordo do Clima de Paris pode impactar as negociações da conferência no Brasil
Especialistas alertam que, como os Estados Unidos são a maior economia do mundo e a segunda emissora de gases de efeito estufa, as decisões do recém-empossado presidente Donald Trump na área ambiental podem ter impacto direto na luta global contra as mudanças climáticas.
Nesse cenário, o Brasil quer propor aos países do Brics (Rússia, Índia, China e África do Sul, por exemplo) que levem à COP30 uma posição conjunta sobre o financiamento climático. O governo Lula entende que, se o grupo apresentar uma proposta unificada, tem mais chance de aprová-la.
COP30 como vitrine para o multilateralismo
Segundo embaixador Mauro Vieira, o critério de escolha dos líderes para a reunião se basearam em dois fatores:
Potências mundiais;
Pequenos países que são muito afetados pela crise climática.
A reunião foi um espaço para que cada país apresentasse suas peculiaridades com a intenção de construir um consenso sobre transição energética e financiamento.
Segundo Hart, a COP30 tem o potencial de reafirmar a confiança mundial nas instituições multilaterais.
“Será o momento de mostrar que o Acordo de Paris ainda é nosso melhor instrumento para enfrentar a crise climática. A mensagem é clara: o mundo está avançando, com ou sem hesitação de alguns países.”
Questionado por jornalistas sobre a ausência dos Estados Unidos e o retrocesso ambiental promovido durante a administração Trump, Hart evitou críticas diretas, mas reforçou o foco no coletivo.
“Apesar das incertezas, o restante do mundo segue em frente. Queremos que os líderes ouçam uns aos outros e reafirmem seu compromisso com soluções globais e com o multilateralismo", disse.
Corrêa do Lago acrescentou que, mesmo com a ausência formal dos EUA, há uma participação ativa de governadores e empresas americanas.
“O comprometimento subnacional nos Estados Unidos é real. Há ações importantes sendo tomadas fora do governo federal e por parte de empresas privadas.”
